Amniocenteses evitáveis
2 participantes
Página 1 de 1
Amniocenteses evitáveis
Cem fetos morrem todos os anos em Portugal por amniocenteses evitáveis
ELSA COSTA E SILVA
Por ano, morrem em Portugal cerca de cem bebés saudáveis. É o preço a pagar pela realização de amniocenteses recomendadas às grávidas depois dos 35 anos. Uma política, diz Kypros Nicolaides, especialista do King's College de Londres, "completamente errada". Até porque existe um rastreio fiável, sem implicar perdas de bebés, e eficiente que pode ser realizado às 12 semanas. Com vantagens, diz o especialista, para o bem- -estar da mãe.
O tema esteve este fim-de-semana em destaque em Braga, onde o especialista da instituição britânica falou para mais de 200 profissionais num encontro da Associação Nacional de Diagnóstico Pré-Natal (ANDPN). As estimativas existentes para a realização de amniocenteses por idade materna apontam, explica Nuno Montenegro, um dos membros da ANDPN, para cerca de 15 mil por ano. O risco de abortamento provocado por este exame é de 1% e, se pelo menos dez mil forem realizadas, isso significa que cem gravidezes terminam apenas porque a mãe tem mais de 35 anos. Em Portugal, em cada ano, nascem cerca de cem mil crianças.
O rastreio bioquímico é feito em Portugal, assim como a ecografia morfológica, mas isso depende da vontade da grávida e do profissional que a acompanha. Porque Portugal, explica Nuno Montenegro, director do Serviço de Obstetrícia do Hospital de S. João, tem apenas duas circulares da Direcção-Geral da Saúde, uma das quais dos anos 90, onde se recomenda a realização de amniocenteses a mulheres com mais de 35 anos. Mas esta é uma recomendação médica completamente ultrapassada, explica Kypros Nicolaides.
"Há mais de 15 anos que se sabe que um exame ecográfico realizado às 12 semanas, que avalie a translucência da nuca, a face e o nariz, detecta 80% dos casos de síndrome de Down", adianta o especialista. Quanto a esta ecografia se junta o rastreio bioquímico ao sangue materno na mesma altura, a taxa de detecção ultrapassa os 90%. Usando a idade materna apenas como uma indicação para amniocentese, só se detecta, no máximo, metade dos casos.
Ou seja, diz Nicolaides, quando, "dentro de três anos, Portugal tiver 20% de grávidas com mais de 35 anos, serão realizadas 20 mil amniocenteses para detectar cem casos de trissomia 21". Mas se todas as grávidas fizerem o rastreio bioquímico e a ecografia, "só serão realizados apenas dois mil exames invasivos, para confirmação de diagnóstico, e detectados 190 casos de síndrome de Down".
Com a vantagem de que não se tornam "todas as mulheres com mais de 35 anos em grávidas neuróticas, porque são velhas, que têm de esperar até à 16.ª semana, quando a gestação é bem evidente, para realizar a amniocentese, e no caso de ser detectado um problema fazê-la passar por um abortamento que é um trabalho de parto", diz. Às 12 semanas, "com uma fotografia" ecográfica pode descansar-se as futuras mães ou, em caso de problemas, fazê-las passar por uma interrupção menos agressiva.
O que o País precisa, referiu o especialista, é de uma decisão política, que determine a realização do rastreio e da ecografia a todas as grávidas, que detectam também outras anomalias cromossómicas. Nuno Montenegro garante que os hospitais do sistema nacional de saúde estão preparados. Mas faltam orientações da tutela e auditorias aos centros. "Actualmente, todas as unida- des podem fazer tudo e não há uma estratégia. O que temos é desperdício e não despesa", garante.|
in www.dn.pt em 15/05/2007
ELSA COSTA E SILVA
Por ano, morrem em Portugal cerca de cem bebés saudáveis. É o preço a pagar pela realização de amniocenteses recomendadas às grávidas depois dos 35 anos. Uma política, diz Kypros Nicolaides, especialista do King's College de Londres, "completamente errada". Até porque existe um rastreio fiável, sem implicar perdas de bebés, e eficiente que pode ser realizado às 12 semanas. Com vantagens, diz o especialista, para o bem- -estar da mãe.
O tema esteve este fim-de-semana em destaque em Braga, onde o especialista da instituição britânica falou para mais de 200 profissionais num encontro da Associação Nacional de Diagnóstico Pré-Natal (ANDPN). As estimativas existentes para a realização de amniocenteses por idade materna apontam, explica Nuno Montenegro, um dos membros da ANDPN, para cerca de 15 mil por ano. O risco de abortamento provocado por este exame é de 1% e, se pelo menos dez mil forem realizadas, isso significa que cem gravidezes terminam apenas porque a mãe tem mais de 35 anos. Em Portugal, em cada ano, nascem cerca de cem mil crianças.
O rastreio bioquímico é feito em Portugal, assim como a ecografia morfológica, mas isso depende da vontade da grávida e do profissional que a acompanha. Porque Portugal, explica Nuno Montenegro, director do Serviço de Obstetrícia do Hospital de S. João, tem apenas duas circulares da Direcção-Geral da Saúde, uma das quais dos anos 90, onde se recomenda a realização de amniocenteses a mulheres com mais de 35 anos. Mas esta é uma recomendação médica completamente ultrapassada, explica Kypros Nicolaides.
"Há mais de 15 anos que se sabe que um exame ecográfico realizado às 12 semanas, que avalie a translucência da nuca, a face e o nariz, detecta 80% dos casos de síndrome de Down", adianta o especialista. Quanto a esta ecografia se junta o rastreio bioquímico ao sangue materno na mesma altura, a taxa de detecção ultrapassa os 90%. Usando a idade materna apenas como uma indicação para amniocentese, só se detecta, no máximo, metade dos casos.
Ou seja, diz Nicolaides, quando, "dentro de três anos, Portugal tiver 20% de grávidas com mais de 35 anos, serão realizadas 20 mil amniocenteses para detectar cem casos de trissomia 21". Mas se todas as grávidas fizerem o rastreio bioquímico e a ecografia, "só serão realizados apenas dois mil exames invasivos, para confirmação de diagnóstico, e detectados 190 casos de síndrome de Down".
Com a vantagem de que não se tornam "todas as mulheres com mais de 35 anos em grávidas neuróticas, porque são velhas, que têm de esperar até à 16.ª semana, quando a gestação é bem evidente, para realizar a amniocentese, e no caso de ser detectado um problema fazê-la passar por um abortamento que é um trabalho de parto", diz. Às 12 semanas, "com uma fotografia" ecográfica pode descansar-se as futuras mães ou, em caso de problemas, fazê-las passar por uma interrupção menos agressiva.
O que o País precisa, referiu o especialista, é de uma decisão política, que determine a realização do rastreio e da ecografia a todas as grávidas, que detectam também outras anomalias cromossómicas. Nuno Montenegro garante que os hospitais do sistema nacional de saúde estão preparados. Mas faltam orientações da tutela e auditorias aos centros. "Actualmente, todas as unida- des podem fazer tudo e não há uma estratégia. O que temos é desperdício e não despesa", garante.|
in www.dn.pt em 15/05/2007
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|